O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) realiza, nesta quinta-feira, a “Operação Mercenários”, para prender 11 policiais militares integrantes de organização criminosa voltada para os crimes de corrupção, tortura, peculato e concussão — quando um funcionário público usa o cargo para obter vantagens indevidas. Além de cumprir 35 mandados de busca e apreensão, entre eles na casa do tenente-coronel André Araújo de Oliveira, comandante do 15º BPM (Duque de Caxias), e do chefe do Serviço Reservado (P2) do batalhão, o capitão Anderson Santos Orrico. Até o momento, sete agentes foram presos.
Os agentes também sequestravam e extorquiam criminosos, mediante tortura e pagamento de resgate. Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), quatro dos denunciados exigiram cerca de R$ 1 milhão em propina do chefe do tráfico do Cantagalo/Pavão-Pavãozinho, identificado como Leonardo Serpa, o Léo Marrinha, para não prendê-lo em uma operação.
Léo Marrinha morreu em maio de 2020 durante uma operação conjunta das Polícias Militar e Civil no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. Na ocasião, outros 12 criminosos também foram mortos.
Foram apreendidos armas, munições, radiocomunicadores e joias na residência do subtenente Antônio Carlos dos Santos Alves, lotado no 15º BPM (Caxias). Os agentes encontraram R$ 96 mil na casa do capitão Anderson Orrico.
Entenda como funcionava o esquema
As investigações tiveram início a partir da análise de dados do aparelho celular do denunciado Adelmo Guerini, apreendido durante a “Operação Gogue Magogue”, realizada em agosto de 2020 para desmantelar um grupo miliciano que explorava o serviço de mototáxis na comunidade Asa Branca, em Jacarepaguá. A partir dos dados extraídos do aparelho, ficou constatado que PMs lotados no Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 24º BPM e na P2 (Seção de Inteligência da Polícia Militar) do 21º BPM, valendo-se da função desempenhada nos batalhões, integraram organização criminosa para cometer os crimes citados.
Adelmo e os denunciados Mário Paiva Saraiva, Antonio Carlos dos Santos Alves, Denilson de Araújo Sardinha, Weliton Dantas Luiz Junior, Francisco Santos de Melo, Marcelo Paulo dos Anjos Benício e Vitor Mayrinck, integravam a equipe Delta do GAT do 24º BPM, aliando-se para obter vantagens indevidas, através de acertos de propina com criminosos, em especial traficantes. Quando o acerto não era realizado, os denunciados realizavam atos de violência, através de extorsões, torturas e homicídios, além de desviar parte ou a integralidade de materiais ilícitos apreendidos que, muitas vezes, sequer eram apresentados à autoridade policial.
Em fevereiro de 2020, André Araújo, então subcomandante do 24º BPM (Queimados) assumiu o comando do 21º BPM (São João de Meriti), levando consigo parte do grupo para formar a P2 do 21º BPM (São João de Meriti), cujo chefe era Anderson Orrico.
A partir deste momento, o esquema criminoso existente no GAT do 24º BPM (Queimados) foi copiado e implementado no 21º BPM (São João de Meriti), com seus integrantes passando a contar com informantes e arrecadadores de propina próprios. Com isso, passaram a fazer parte da organização criminosa outros cinco policiais militares: Marcelo Leandro Teixeira, Oly do Socorro Biage Cei de Novaes, William de Souza Noronha, Fabiano de Oliveira Salgado e Thiago Santos Cardoso.
Mario Paiva Saraiva, Antônio Carlos dos Santos Alves e Denilson Sardinha integram o GAT do 15º BPM (Caxias). O Gaeco está cumprindo mandados de busca e apreensão nos endereços vinculados aos dois primeiros objetivando obter provas acerca da participação deles nos crimes denunciados.
A operação é realizada em parceria com a Corregedoria da Polícia Militar. Os mandados de prisão e busca e apreensão foram expedidos pelo Juízo da Auditoria Militar do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
O Dia